Enquanto o carteiro não vem
PARTE I
As frequentes publicações das correspondências trocadas entre escritores, políticos, artistas de um modo geral, nos remetem a um hábito que gradualmente foi sendo substituído e hoje, saudosamente, em desuso. Ninguem mais escreve cartas aos amigos ou aos amantes. Quando muito um bilhete, que pela economia das palavras mais parece um, tambem ultrapassado, telegrama.
Parafraseando um samba de Noel, “o telefone é o grande culpado da transformação...” e da quase extinção da troca de cartas como expressão de amizade e afeto entre as pessoas. Permanecendo, no entanto, como forma comercial entre a empresa e o cliente, se bem que sem o formalismo que já foi uma de suas características, conforme os manuais de correspondência oficial. Mas até chegarmos ao telefone, foi um grande caminho a percorrer.
Em Piritiba, as “boas novas” nos chegavam pelas mãos de “seo” Saldanha ou de Maroto, da mesma forma que postávamos nossas cartas com o auxilio das zelosas funcionárias D. Francisca ou Abelita. Os “Correios” funcionavam na Praça Getúlio Vargas, vizinho ao Bar de Juracy. Esta proximidade perigosa acabava por transformar o bar numa extensão da agência postal, que por sua vez se passava por botequim tal o trânsito, lento e trôpego, de alguns dos seus funcionários. Nada que pudesse comprometer o desenvolvimento e a rapidez dos serviços telegráficos e postais, por si sós já devagar o suficiente para quem tinha todo o tempo de espera por uma resposta. O tempo não passava, se arrastava, pachorrentamente, como as velhas novidades.
Uma carta para Salvador, Rio, São Paulo ou Campo Formoso poderia levar, até o destinatário, o tempo de permanência do circo ou do parque de diversão na cidade, por exemplo. O que não era pouca coisa, em se tratando de alguns circos que por muito pouco não se dissolveram por lá, adotando a cidade como seu novo domicilio residencial. E aí teriam que se submeter às adaptações mais que necessárias a uma nova vida. A rumbeira seria corista no Bar de Zequinha; o trapezista, ajudante de pedreiro; o equilibrista, carregador de mala na Estação da Leste; o mágico, balconista da venda de Zé Garapa; o palhaço, coroinha de missa do Padre Nicanor e assim com toda a troupe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário