sábado, 6 de novembro de 2010

COLUNA DO BAZO (LOURIMAR BORGES)


                        Enquanto o carteiro não vem
Em Piritiba, as “boas novas” nos chegavam pelas mãos de “seo” Saldanha ou de Maroto, da mesma forma que postávamos nossas cartas com o auxilio das zelosas funcionárias D. Francisca ou Abelita.


As noticias das celebrações do mês de Maria ou da Festa de São João, só eram partilhadas pelos piritibanos ausentes, em qualquer lugar que estivesse, lá pelos idos de setembro ou dezembro quando a cidade já se restabelecia de mais uma tentativa mundonovense de transformá-la, novamente, em seu distrito. Sobressalto que nos acompanhou por alguns momentos de nossa vida piritibana. Dormíamos urbanos e acordávamos rurais.  A novidade já não era, quando comunicado o fato.
          Em alguns casos, no entanto, nem carta, nem telegrama aliviavam a dor, o desespero, a saudade. Era o inesperado fazendo uma surpresa, como na canção “Eu e a brisa”. Soubemos, já em Salvador, da morte de mãe Maria através de um comunicado do serviço de rádio amador. Mesmo incipiente, em Piritiba, e por isso mesmo precário em suas condições técnicas, o serviço era compensado pela elevada abnegação de seus participantes. Em sintonia com um rádio-amador instalado no casarão onde funcionava o pensionato que morávamos, Miro nos transmitiu a mensagem sobre o falecimento dela, numa manhã de um domingo de agosto. Chegamos em Piritiba, quando os familiares e amigos já retornavam do cemitério após seu sepultamento. O barro, a lama, o atraso enfim naquela que viria a ser a “estrada do feijão”, não nos impediu de ter a sua última imagem e despedida, que permanece feito uma carta que insiste em não chegar.   
L. Borges

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