A CRÔNICA DA SEMANA
Professora nota dez
A cada início do calendário letivo era instaurado o pânico entre os alunos do Almirante Barroso e do Prédio Rural.
Quem iria conviver, por um ano inteiro, com o rigor pedagógico da professora e seu pragmatismo didático, movido a sabatina e palmatória.
O certo é que aluno com ela não tinha moleza. Ou estudava ou então não passava de ano. Brincadeira em sala de aula? Nem pensar. Quem se atrevesse tinha, no ato, o castigo merecido.
As tarefas escolares não realizadas em sala de aula implicava em sua conclusão, em qualquer hora do dia ou da noite, na residência da mestra, a solitária educacional.
Naquele dia, um dos alunos resolveu dar uma de engraçadinho, exatamente no final da aula. A professora não vacilou: O Almirante Barroso vai fechar, mas a minha casa está aberta e nós vamos pra lá continuar a aula.
Zé Santana, Lineuza, Darinho de João Melquíades, Vilma (duplamente irmã), Adauto, Evilázio, Vanderlei Barros, Zé Canhão, Humbertina, Argileu, Cordeiro, Froilan, Selma, Ubirajara, Zolane e Maria Boi Toco compuseram o pelotão de alunos, que, em silêncio e em fila indiana subiu a rua do Sobradinho, cruzou a Praça Getúlio Vargas, sempre sob olhares curiosos das pessoas, até chegar na casa da mestra.
Enquanto eles estudavam, ela e os filhos jantavam tranqüilamente. Não se importava com a fome e muito menos com o olhar de “pidão” dos seus discípulos.
O atraso e o destino dos filhos era comunicado aos pais pelas pessoas que os viam se dirigindo para a casa da professora.
Tinha pai que até podia não concordar muito com o método pedagógico adotado, entretanto, considerando que o objetivo era o ensino, o assunto não era discutido.
Pois bem. Apesar do empenho da professora, Coi, o filho do Guarda-chaves da Leste, ia de mal a pior. Parecia até comunista, só tinha vermelho no boletim. Vai daí que o pai resolveu contratar Lucides Moura para dar umas aulas suplementares para o garoto. Durante quinze dias caprichou nos ensinamentos da língua pátria e da matemática.
Finalmente o dia do exame chegou, e, com a tranqüilidade de quem sabe tudo ou nada sabe, Coi fez as provas. No dia seguinte foi até a casa de Lucides para contar seu desempenho: Olha professora, na prova de português até que eu fui bem. Agora, na de matemática, eu se fudi.
-Não é se fudi. É eu me fudi.
-A senhora também professora? perguntou o aluno relapso e distraído
Nenhum comentário:
Postar um comentário