Memórias de uma infância
Lucimar Ayres de Almeida
Como um lugar tão pequeno pode exercer tanto fascínio sobre seus filhos?!... Só Piritiba é capaz. Mesmo aqueles que de lá saíram ainda criança, não conseguem esquecer esse lugar mágico e falam com grande orgulho da querida terra, cidade da Rua dos Ricos, Sobradinho, São Domingos, Rua da Igreja, Praça Nova e Praça Velha, Rua da Mistura (Mustura para muitos) e o famoso Bate-Bico – era a nossa terra. Cidade onde o Estádio era denominado “Campo de Futebol” e o aterro sanitário era o “munturo”.
Os fatos que ocorreram na minha infância estão presentes, gravados na minha memória com detalhes. E como é bom relembrá-los!... É difícil imaginar esse poder sedução, exercido por uma cidade sem ruas calçadas, onde a água chegava às residências através de carregadores com latas ou jegues com “carotes” (adoro pronunciar essa palavra), iluminada por candeeiros à querosene, com pavio e um tubo de vidro ou por aladim (candeeiro mais sofisticado), isto sem falar no famoso “fifó”. Somente mais tarde chegou luz elétrica, de forma muito precária. O café e o milho eram moídos em Pilão. O que diriam os cardiologistas de hoje se disséssemos que o nosso óleo de cozinha era a banha de porco frita? Ah, e os torresmos, que delícia!... Às vezes penso que essa afinidade nos foi transmitida pelo contato com a energia da terra quando, descalços, brincávamos por aquelas ruas. São lembranças tão doces que não deixam espaço para recordações desagradáveis. Existiram??????
Qual o quarentão ou cinquentão nascido em Piritiba que não se lembra do bico doce, enrolado “papel de embrulho”, cortado em pequenos pedaços, como se fossem guardanapos, comprado na venda do João Andrade, pai de Rute e esposo de Dona Nair? Apesar do ar sisudo, o velho senhor nos dispensava um sorriso vindo do canto da boca e em cumplicidade conosco, já trazia um pedaço de cordão para amarrarmos um dos bicos no pescoço, imitando chupeta de bebê. E os pirulitos envolvidos em papel transparente e vendidos em tabuleiros perfurados. Como achava bonito aquele visual e como eram gostosos os pirulitos! E por falar em doces, quem não se lembra de Dona Ermínia, aquela senhora bondosa que vendia merenda aos alunos da Escola Almirante Barroso.? Enloquecíamos a pobre senhora fazendo nossos pedidos, sobretudo doce de leite em calda com pão. Ficávamos todos grudados com a calda do doce que escorria quando apertávamos o pão. Era uma delícia.
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