terça-feira, 24 de abril de 2012

UM POUCO MAIS SOBRE A SECA

Aproximadamente 60% do território baiano é ocupado pela inóspita região do semiárido. Justo o “miolo” do Estado. É basicamente esta região que arde ao sol escaldante na maior seca dos últimos 30 anos. Espera-se que a situação não se expanda para uma tragédia de proporções, o que provavelmente acontecerá se as chuvas não acontecerem. A época delas passou: vai de novembro a março. Já as consequências invadirão 2013 e 2014. Está desenhada, assim posto, uma situação de extrema gravidade para a população de (por ora) 206 municípios; para o governo – com forte reflexo na economia estadual – e para a população do semiárido que, em boa parte, está abaixo da linha da pobreza absoluta.Trata-se, evidentemente, de um fenômeno climático, mas poderá, como consequência, também atingir politicamente o governo Wagner, que demorou em perceber a gravidade do que se desenhava. Justo em ano eleitoral. Esse é o mínimo, porém, porque, em primeiro, está a população sofrida do semiárido que, para adensar a tintura da tragédia, estranhamente em boa parte não se concentra em centros urbanos, mas, sim, se espalha pelas terras esturricadas onde dificilmente é alcançada.
Um exemplo claro da falta de percepção do governo estadual sobre o braseiro que ameaça o semiárido foi a estranha e absurda publicação no Diário Oficial, há poucos dias, de um comunicado aos municípios do recebimento de projetos para apoio aos festejos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro). Pretende-se selecionar 110 projetos. Trata-se da divulgação de um edital da Secretaria de Turismo (que faz parceria com a Secretaria de Cultura) objetivando atrair turistas para os festejos (?) no interior da Bahia. A festa será organizada pela Bahiatursa e o prazo para a apresentação dos projetos pelos interessados se estende até o dia 27 próximo.
Aí está um exemplo de desdita administrativa. Há quem o defenda. O que quer o governo? Atrair turistas para o sertão em brasa e ainda por cima gastar dinheiro acendendo fogueira para um solo que já queima o sertanejo? Turista para conhecer a seca que mata os animais de sede? Que seca açudes e aguadas? Que destrói a agricultura familiar (a da Bahia era ou é a maior do País)? Que transforma os rios, não perenizados, em caminhos com terras rachadas pela inclemência do tempo?  Seria interessante o governo distribuir entre o seu secretariado o livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.  Será possível, assim, entender melhor o que é seca e ainda, de quebra, conhecer a obra. O livro é um dos marcos da literatura e do modernismo brasileiros.

Terça, 24 de Abril de 2012 - 08:20

Coluna A Tarde: A Bahia diante do flagelo

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