Senhor José Baltazar dos Reis, lavrador, 75 anos (150 , contando noite e dia segundo ele), casado com Dona Dalvina Soares de Oliveira. O Criador dos bonecos e criadora das roupas. Nascido na Fazenda Soem, criado na roça, trabalhador rural até a aposentadoria . Eis que nasce o criador, o mestre Bobó. Seu primeiro boneco, inspirado em um policial de uma certa cidade e depois tantos outros, na milícia do cangaço e nos cangaceiros resistentes às volantes. Aí Mestre Bobó, homem simples, pacato quase sem estudo, mas sensível para a cultura popular; sua arte. Fez da vida um exemplo de superação através dela. Fez da arte, um instrumento, da saudade, do tempo de infância; quando queria e não podia ter. Quantas promessas, e somente promessas. Quantas latas na cabeça, e quantas vezes a mesma ladainha, que a água chegaria pra todo sertanejo. E enquanto a política da seca, reinava sobre o sertão de Piritiba, ele retratava o sofrimento de quem na cabeça levava a lata d’água e no coração a fragilidade diante da promessa; por um chafariz jorrando a água prometida. Assim penava seu povo, e assim ele retratava seu povo.
Mestre Bobó, sua aguadeira com a lata na cabeça, seus carros de bois e aradores, retratando sua vida na fazenda. O mesmo mestre do parque infantil, seu sonho quando criança e o sonho de tantas outras crianças. E assim prossegue, Mestre Bobó, com bandas e fanfarras, carrosséis, rodas gigantes e tocadores de tambores e banda de pífanos. Mulheres, marinheiros, cangaceiros, soldados e a saudade no coração. E então podemos acreditar, que em Piritiba há cultura, e o que basta é procurá-la e torná-la popular. Não fazer do São João, a única expressão cultural, mais juntá-lo ao bumba meu boi, ao samba de roda, à chula e ao reisado; valorizando as festas populares de cada distrito ou povoado, não podendo esquecer o artesão e sua arte, seja numa noite qualquer ou nas noites de são joão e lembrar: “...olha pro céu meu amor e veja como ele está lindo...” O artista modela, cria, funde o seu, o nosso universo através de formas e cores. As formas são as mais variegadas: as cores, aquelas componentes do arco-íris e mais tantas dele resultantes, que é impossível mensurá-las. Enfim, o artista trabalha em consonância com o universo que muitas vezes é o seu mundo exógeno e endógeno. EIS A ARTE, EIS O ARTISTA!
A arte popular é o resultado de uma vivência da escola da vida, que busca a vida na escola. A escola de um povo, que não pode ser esquecida, porque um povo sem cultura, é um povo sem identidade. O barro, a madeira, a palha, o bambú, a talisca do ouricuri entre tantas matérias-primas da natureza, em mãos de um artista, torna-se o belo que faz da arte, a mais sublime das maravilhas de nossa terra. Arte popular é portanto, a expressão maior de um povo em busca de sua própria identidade, com o mundo em volta de si. Assim é o Mestre Bobó, um homem simples e humilde, que faz da arte, um instrumento de superação, mesmo na falta de incentivo das autoridades, sendo capaz de transpor todo e qualquer descaso. (Jorgepô, Artista Plástico)
hoje o mestre Bobó está com 77 anos...
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