E lá pras bandas de Piritiba, Morro do Chapéu e Mira Serra, havia virtuosos violeiros?
Sempre surgia novidade na feira, vindo da Paraíba, foragidos da seca, procurando emprego nas roças e traziam a cultura de lá. Eu achava muito bonito o pessoal batendo pandeiro e dizendo versos. Lá em Mira Serra tinha até um sujeito que fazia um som maravilhoso, uma mistura de cavaquinho com viola, extraído de um instrumento inventado por ele, num formato de lata de óleo, com cordas de arame de estender roupa.
Aprendeu a tocar instrumentos, o violão, por exemplo?
Eu ficava cutucando, mas vim aprender a tocar um pouquinho de violão já depois de casado. Minha vida toda foi no evangelho, minha família sempre foi prebisteriana, era igreja quarta, sexta, domingo. Meu pai dizia que violão era coisa de vagabundo, e não deixava aproximar do violão. Eu disse que quando eu fosse dono do meu nariz eu compraria um violão. E realmente quando meu pai separou de minha mãe e eu fui pra São Paulo trabalhar eu comprei um violão.
Era uma época de euforia, da ideologia “Brasil, potência do mundo”; da conquista do tricampeonato mundial de futebol; da proliferação das torturas nos porões da ditadura, e da pornochanchada nas telas do cinema brasileiro. Os militares estavam no auge da sua popularidade por conta do chamado “Milagre Econômico”: “ninguém segura esse país“, “ame ou deixe-o”...
Eu morava em Piritiba já pleiteando algum emprego, mas toda a minha família era de oposição. Os políticos de direita da cidade eram da ARENA e não deixaram que eu trabalhasse na prefeitura, nem no Banco da Bahia. Sem opção de trabalho formal só me restou ganhar algum dinheiro como artista, fazendo desenhos e pintura. A prefeitura era obrigada a me engolir porque eu produzia todas suas faixas. Desenhava ainda escudos do colégio, etc. Na 1º Exposição de Arte da cidade conquistei 3 prêmios, inclusive o 1º lugar de desenho, imaginação e pintura. Cantava ainda no coral e nos muitos grupos que formávamos, como o grupo musical “Os Helps”, que tinha muita influencia dos Beatles, e depois virou “Os Horríveis” (risos...).
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