A senhora estava agachada, completamente nua, à beira do asfalto. Toda sua fortuna jazia espalhada pelo chão: algumas tampas de garrafa, um copo de plástico verde e o minúsculo pedaço de sabão que usava para se banhar. No momento da foto, estava de cócoras. E lavava seus trapos em uma poça de água barrenta, fruto das chuvas na cidade. Tem a pobreza escrita na curva de suas costas, em suas costelas desnutridas e na finura de seu braço. Sombra, sim. Mas só da alma porque o corpo quase que não tinha. E a pobreza no Brasil tem a face negra, feminina, nordestina.
Há imagens que nos confrontam com a total ausência de tudo. Que mostram a realidade crua, nua, extremamente próxima, familiar. Assim foi fotografia publicada hoje, dia 05 de junho, pelo Correio da Bahia. As tocantes palavras do colunista Welter Arduini a acompanham:
“A poça, agora, é sua palaciana banheira imaginária: o asfalto que serve de borda para represar a água barrenta é como reluzente mármore negro; o celestial céu azul que paira sobre sua cabeça é um teto de cristal e a sua frente tem uma imensa janela invadida pelo mar de Patamares (...)”. “(...) O que choca não é sua esquelética e assustadora magreza, mas imaginar o que não foi feito por ela, para deixá-la, assim. Finda a tarefa, se vestiu e juntou suas coisas, mecanicamente”, escreveu o colunista. “Não é Ruanda, Etiópia ou Haiti. Desgraçadamente, é aqui.”
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